terça-feira, março 31, 2009

O fogo do inferno...que fazer sem o purgatório?


Tirei esta foto no Reboleiro, que é uma aldeia limite de Sebadelhe,terra de Aquilino Ribeiro.

quinta-feira, março 26, 2009

Texto de Miguel Sousa Tavares no Expresso de 21-3-09


Tristes trópicos, triste Papa - Miguel Sousa Tavares

Lisboa - Os Papas gostam muito de ir a África. São viagens que asseguram sempre uma grande cobertura mediática, estádios cheios de multidões com bandeirinhas que não entendem nada do que o Papa lhes vai dizer nem estão lá para isso, discursos de efeito fácil e inócuo contra a pobreza e o subdesenvolvimento que ficam sempre bem à imagem de uma Igreja preocupada com questões sociais. De caminho, os Papas não se preocupam nada ou quase nada com a caução que dão às ditaduras que visitam, à corrupção que elas praticam e à miséria que promovem.

Quando João Paulo II visitou a Costa do Marfim, de que era ditador Houphouet-Boigny, dormiu num edifício construído de propósito para o efeito que custou 150 milhões de euros - o equivalente, talvez, ao PIB anual do país, e construído ao lado da Catedral de Yamassoukro - do tamanho da Basílica de S. Pedro, em Roma, toda em mármore, erguida em plena selva e cujo custo ninguém conseguiu jamais estimar. E aí, no covil do ladrão, abençoou o país e o seu Presidente e não se esqueceu de pregar a caridade para a multidão de miseráveis a quem o regime local roubava o pão e a escola para financiar a ostentação religiosa e o palácio particular do VIIème em Paris onde Boigny gostava de passar o melhor do seu tempo.

Também agora, vendo o ar feliz com que Bento XVI se passeou em Yaoundé, ao lado do Presidente Biya, dos Camarões - corrupto e ditador, como manda a tradição - e da sua contratada primeira-dama, constato que a tão elogiada diplomacia duplamente milenar da Santa Sé continua a seguir a mesma regra de sempre: o essencial é garantir que a Igreja Católica seja tolerada e de preferência bem tratada onde quer que seja, nem que para isso o Papa tenha de caucionar, visitar e abençoar aquilo que a decência mandaria evitar. Foi assim, por exemplo, que João Paulo II, de visita à Indonésia, aceitou deslocar-se a Timor, no auge da ocupação e da repressão (inclusive sobre a Igreja Católica), porque, em contrapartida, lhe asseguraram uma existência pacífica no maior país muçulmano do mundo.

Para dizer com franqueza, por mais que a figura de Ratzinger afaste qualquer simpatia - ao contrário do que sucedia com Woytila - o que Bento XVI faz e diz em África não é substancialmente diferente do que fazia e dizia João Paulo II: convoca a fé irracional das multidões, de que a Igreja tanto gosta, prega a caridade em lugar da justiça social, e repete os insustentáveis dogmas morais para um mundo que não existe e que hoje parece ser o fundamental da mensagem de Roma. Se fosse só esta a mensagem que a Igreja Católica tivesse para levar a África e a outras partes do mundo, há muito que teria desaparecido do mapa. Mas, apesar da perda de influência constante a favor daquilo a que Bento XVI chama "seitas", o que ainda mantém a Igreja com uma força de influência moral em África é o trabalho, muitas vezes invisível e até mal compreendido por Roma, que muitos sacerdotes, missionários e comunidades cristãs desenvolvem no terreno, em condições bem difíceis. Felizmente, aí vale aquele provérbio africano que diz que "a palavra do chefe não passa além do rio". Aí, confrontados diariamente com a doença e o sofrimento, vivendo num continente onde estão 70% dos infectados com sida, os padres sabem que a sua obrigação, moral e religiosa, é aconselhar o uso do preservativo e não fazer pregações irresponsáveis e paternalistas a favor da abstinência, da fidelidade ou da procriação como único fim da sexualidade.

No curto espaço de três semanas, este infausto Papa, imposto por longas manobras da cúpula 'negra' da Igreja Católica, conseguiu mostrar o pior de si mesmo. Primeiro, levantou a excomunhão contra o arcebispo nazi inglês Williamson e a sua seita anti-Vaticano II e apenas duas semanas depois de ele ter repetido que o Holocausto era uma invenção dos judeus; depois, defendeu e confirmou a excomunhão decretada pelo arcebispo de Olinda e Recife contra a mãe e os médicos que procederam ao aborto de uma menina de 9 anos (!), violada repetidamente e engravidada pelo padrasto, e que nem sequer percebeu que estava grávida e tinha deixado de estar; enfim, decretou, ao pisar África, que o preservativo não só não serve para atacar a disseminação da sida como até "a pode agravar". E isto, em nome da "vida". Que saberá o Papa da vida? Como é que algum católico, a começar por ele próprio, pode acreditar que Deus fala por ele?

Eu não gosto de Ratzinger, como se percebe. Não gostei do seu passado à frente da Doutrina da Congregação e da Fé, onde se dedicou sempre a perseguir o sector mais aberto e moderno da Igreja e a defender o sector mais retrógrado e fechado. Ao mesmo tempo que fustigavam o preservativo, o aborto em quaisquer circunstâncias e o sexo como direito natural das pessoas, fecharam os olhos durante décadas ao deboche e à ignominiosa perversão das paróquias, bispados e colégios católicos onde a pedofilia homossexual sobre indefesos era lei e regra. E eles sabiam - tinham de saber.

A moral não é uma questão de fé nem de mandamento divino. Não é preciso ter fé para se obedecer a um código de conduta com valores morais que todos devemos ter. Por vezes até - como se vê com os pregadores extremistas do Islão, do judaísmo ou do Papa Ratzinger - é a invocação da fé que acaba por pretender legitimar o que é moralmente insustentável. Também a fé não dispensa que se tente perceber quem os outros são, olhando-lhes para a cara. A mim, bastou-me olhar para a expressão de Ratzinger, no primeiro momento em que apareceu à janela de S. Pedro como Papa Bento XVI, para perceber muita coisa: Deus não tinha nada a ver com aquilo; o que ali estava inscrito transparentemente era uma expressão de pura cobiça satisfeita, de deleite com o poder. E até hoje não o vi mudar de expressão, apenas disfarçar, enquanto vai achando prudente, as ideias que desde sempre foram as suas.

Enquanto se ocupa a excomungar médicos que salvam a vida a uma criança violada pelo padrasto, Bento XVI prepara-se fatalmente para dar sequência ao que seria apenas uma anedota portuguesa, não fosse também uma vampirização da nossa História: fazer de D. Nuno Álvares Pereira santo, só porque uma senhora de Vila Franca de Xira se queimou com o óleo da cozinha, rezou ao beato e curou-se... graças aos médicos que a assistiram e às defesas do organismo. E fica em silêncio quando tantos devotos católicos e financeiros, seguidores do também beato Escrivá de Balaguer, fundador da Opus Dei, levaram o culto de vendilhões do templo a tal extremo que conduziram o mundo a uma crise global e reduziram milhões de pessoas à moderna escravidão do desemprego e da pobreza.

Não, Deus não iluminou o conclave de Roma no momento de soltar fumo branco por Ratzinger. Mas o pior é que o mundo que os rodeia também não os inspirou em nada. E a consequência é que a Igreja Católica desertou de onde, apesar de todos os seus humanos erros, faz falta.
Miguel Sousa Tavares

Luta Livre (Tarzan Taborda)


Com a cortesia do IÉ-IÉ

quarta-feira, março 25, 2009

O Sr. Duarte Pio e o opúsculo!



Este Duarte Nuno, o Nunes como é conhecido fez a tropa colonial eventualmente em Angola, e também eventualmente no Negage!Um rei à medida do colonial-fascismo!

Li no excelente blogue De Rerum Natura, num post de Carlos Fiolhais, o seguinte:

«De facto, o candidato a rei é autor de um opúsculo laudatório do Beato Nuno, onde se pode ler esta pérola: “Quando passava de Tomar a caminho de Aljubarrota, a 13 de Agosto de 1385, D. Nuno foi atraído a Cova da Iria, onde, na companhia dos seus cavaleiros, viu os cavalos do exército ajoelhar, no mesmo local onde, 532 anos mais tarde, durante as conhecidas Aparições Marianas, Deus operou o Milagre do Sol» (“D. Nuno de Santa Maria - O Santo”, ACD Editores, 2005).»
Fiquei maravilhado com o que li e, sobretudo, por saber que o Sr. Duarte Pio escreve.

O Sr. Duarte Pio, suíço alemão, da família Bourbon, imigrante nacionalizado português pela conivência de Salazar e pelo cumprimento do Serviço Militar Obrigatório, podia emprestar a imagem às revistas do coração mas precaver-se contra a ideia de publicar opúsculos.

Claro que não é necessário saber falar para escrever e, muito menos, saber escrever para publicar um opúsculo, mas a gramática, o tino e o decoro deviam criar numerus clausus.

É verdade que famosos especialistas são frequentemente alheios ao mister que os celebriza. É o caso do Conde de Abranhos como ministro da Marinha ou de Bagão Félix nas Finanças. E Portugal é um país que resiste a tudo. Resistiu à dinastia de Bragança, ao salazarismo e a Santana Lopes.

O Sr. Duarte Pio há-de ter pensado, em seu pensamento, num esforço heróico, que um livro vinha a calhar para lhe dar o toque de erudição depois das saídas rústicas que lhe mereceu José Saramago a cuja leitura o pouparam a rudimentar cultura e ausência de sensibilidade.

Se o Bush e a Alexandra Solnado são capazes de falar com Deus, e da Alexandra não há razão para duvidar, por que motivo o Sr. Duarte não há-de ser capaz de escrever um livro ou, pelo menos, um opúsculo, ainda que com a ajuda de alguns vassalos?

Há quem, através do estudo e do trabalho, de altas classificações numa boa universidade e de grande tenacidade consiga um emprego ao balcão de uma loja de pronto a vestir mas não será fácil chegar a Grão Mestre da Ordem de N. Sra. da Conceição de Vila Viçosa, da Real Ordem de São Miguel da Ala, Juiz da Real Irmandade de São Miguel da Ala, Bailio Grã-Cruz da Ordem Soberana de Malta, membro do Concelho Científico da Fundação Príncipes de Arenberg e outras distinções guardadas para os descendentes de rainhas de Portugal.

Felizmente vivemos em República. Somos cidadãos e não súbditos. Quando nos cansamos dos titulares dos órgãos de soberania, votamos noutros. E ninguém, com juízo, votaria em quem acredita que Nuno Álvares curou o olho esquerdo de D. Guilhermina de Jesus, queimado com salpicos de óleo de fritar peixe.

Diário "Provincia de Angola" 30-3-1961


Para os muitos que continuam a dizer que os portugueses não eram racistas só peço que ampliem o jornal e vão lendo o que então se escreveu.
Fernando Pereira

segunda-feira, março 23, 2009

LUis Cília..A Bola (1966)

Em Março de 1961...


ERa assim que abria qualquer serviço noticioso na Emissora Nacional nesses tempos de má memória de 1961...
Com o Ferreira da Costa a debitar triunfos atrás de triunfos e a reforçar que "Rádio Moscovo não fala verdade", lá se ia cantando e rindo...



“Monólogo e Exposição”

“Mas não puxei atrás a culatra,
não limpei o óleo do cano,
dizem que a guerra mata: a minha
desfez-me logo à chegada.

Não houve pois cercos, balas
que demovessem este forçado.
Viram-no à mesa com grandes livros,
com grandes copos, grandes mãos aterradas,

Viram-no mijar à noite nas tábuas
ou nas poucas ervas meio rapadas.
Olhar os morros, como se entendesse
o seu torpor de terra plácida.

Folheando uns papéis que sobraram
lembra-se agora de haver muito frio.
Dizem que a guerra passa: esta minha
passou-me para os ossos e não sai.”

Fernando Assis Pacheco em “Câu Kiên: um Resumo”, Lisboa 1972

_____________

A ilustração é a capa de um disco que contém o hino colonialista “Angola É Nossa”, com música de Duarte Pestana e letra de Santos Braga. A interpretação é do Coro e Orquestra da FNAT (Federação Nacional para a Alegria no Trabalho).
Para o reime tratava-se de um hino patriótico, criado após a célebre frase de Salazar: “Para Angola, ràpidamente e em força”
Cortesia de “Ié-Ié”

sexta-feira, março 20, 2009

Sua Santidade tem razão!

Sem o preservativo é indiscutívelmente muito melhor...Palavras do SS Papa!
Isto da SIDA é uma coisa inventada pelos Luteranianos em conluio com a Control, Durex ou Harmony!

Desenho do António!

Sai na edição em papel do Expresso de 21/03/09

terça-feira, março 17, 2009

A Fama e o Proveito / Texto de Eugénio Ferreira na apresentação do livro sobre seu pai!


Habitamos o planeta terra e somos componentes da sua sociedade mais complexa e mais desenvolvida até alguém nos demonstrar o contrário. Como tal, buscando uma das milhares de invenções da humanidade - a matemática - podemos desde logo fazer uma regra três simples , uma equação do segundo grau a uma incógnita ou uma simples combinação, para chegarmos á conclusão prematura de que a sociedade humana,tem condições para transformar a hierarquia global entre sociedades que C. Darwin só descobriu há menos de dois séculos – e que alguns loucos , de tempos a tempos , tentam projectar nas suas aldeias - naquilo que os utilizadores de religiões que mais engendraram historicamente pati farias conhecidas , chamam paraíso .
Por isso, esta história “ aldeã “ de ser angolano ou haitiano , chinês ou sueco , aus traliano ou da Mongólia , só lá vai se a humanidade criar as condições materiais mínimas , para que cada humano – antigamente através de gerações e agora , por vezes , com um simples clique de um botão de computador - ,não viva , por sistema , a chegar à conclusão de que a vida é soma de equívocos que se reduz à existência de santos, diabos e malabaristas na arte de conviver .
Há 40 anos, diziam alguns que era por moda , a luta de uns aldeãos – ricos e pobres - por um lugar ao sol na rota do Atlântico – sul , em nome de injustiças verdadeiras , foi resolvida na ba se da reivindicação de que havia por aí uma identidade especial e que a única forma de resolver a questão particular - a deles serem eles mesmos - , só tinha lógica se virássemos o mundo ao contrário . Paco Ibañez cantava : Era uma vez um príncipe mau, uma bruxa moça, um pirata honrado , e todas estas coisas só “existiam“ para que acontecesse um mundo melhor . Inver tendo os termos da equação descobria a forma mais hábil de conseguir uma transformação de sejada .
Assim,numa luta titânica entre produtores e difusores,inventores e aproveitadores, construtores e destruidores , completados por tarefeiros - alguns deles tornados novos senhores do mundo material ! – chegou-se à conclusão de que , consoante a aldeia em que vivemos , só há 1 mo mento em que fama e proveito se articulam e se sentem no paraíso .
É quando a história começa a descrever descobertas e a revelar factos impossíveis de serem desmentidos , sob o risco de , pelo esforço , nada nesta vida humana fazer sentido.
É quando a história ajuda a demonstrar, que em tempos de pedra lascada , entre muitas combi nações e arranjos matemáticos , pode haver diferença principal entre um bandido que de facto fica com fama de distribuidor de benesses e um herói que corre o risco de ser conhecido , por vezes durante muito tempo , como bandido .
É , em suma , quando a história deste planeta pode demonstrar :
1º que o “ inferno“ e o “ purgatório“podem andar por aí a esboçar-se quotidianamente, porque sendo a perfeição extra-terrestre , há os que defendem que o caos e a barbarie devem ser espa lhados pelos “rebanhos“ para que só os “guias” vivam organizadamente em paz e harmonia ;
E
2º que o ”paraíso” pode vir a existir por absoluta necessidade de construção humana e de vontade em dar um sentido humano ao acaso que é a vida das sociedades descoberta por C.Darwin .
Tenho dito
Luanda , 19 de Março de 2009 .

domingo, março 15, 2009

quinta-feira, março 05, 2009

IDEOLOGIAS E MENTALIDADES /Eugénio Monteiro Ferreira



IDEOLOGIAS E MENTALIDADES

I

Há 4 condicionantes que me dizem directamente respeito - tal como a todos os que não desistem de ter" Angola no coração " - que não posso deixar de enunciar , depois de ler o texto de Alfredo Margarido sobre "Uma fresta do tempo" seguida de "Ironias " de Adelino Torres , difundida no número 34 de Dezembro de 2008 , na revista "Latitudes " . Dizem respeito simplesmente à reprodução da luta interminável entre a ciência política e as outras ciências , neste caso , sociais , e tem a ver com a renovada história , com muitas bifurcações , do racismo , e com aquilo que , podendo ser um factor decisivo-como o foi - nos processos históricos , não pode deixar de ser , para quem consegue ultrapassar a " menoridade mental " de alguns "chefes " políticos , um valor acrescentado . Alfredo Margarido , que dizia que Mário António não era " puro " por ter influências dos colonizadores , renova nes te texto , um racismo estrutural que não tem emenda , pois renova a linearidade da relação cor - raça -cultura , que a História de todos os azimutes já demonstrou ser falsa . Ou seja , Alfredo Margarido dá razão a ...Shakespeare :

1º mostrando-se afinal de contas um exímio defensor da ideologia prática do salazarismo , isto é , dos produtores do aparelho repressivo imperial portu guês , por exemplo da PIDE ou das Polícias vulgares até ao final dos anos 50 , que em caso de violência política prendia negros e mestiços e mandava para Portugal , brancos ;

2º a) renovando a sistemática defesa política do vai - vem do Poder imperial português - colonização /descolonização ou , nos dias de agora , neo-colo
nialismo - , numa lógica em que a ida para Angola e o apego ao espaço social , impõe um torna -viagem " obrigatório " e se abre , porventura muito
" poeticamente " a relação portugueses - África , imitando franceses por exemplo , recusa reduzir-se à realidade : Angola - Portugal . Dito de outro mo
do , por mais que Margarido o não pretenda , os " poemas " de Adelino Torres não são " consagrados a África " ...são consagradados ao conhecimento da angolanidade vivida e depois idealizada , pois até organicamente ...da África veiculada como "uniforme" e "nublosa ", a quase totalidade dos angola nos , repito , angolanos , da política à poesia ou à engenharia , não a conheceram nunca , com a excepção de uma minoria ...a dos nacionalistas agressi vos e estruturalmente racistas...a começar pelo " Poeta Maior" ; b) não concebe que a história real da angolanidade teve a ver com uma ida sem retorno nas mentalidades e nas vontades de muitos colonos ...a meio caminho entre as"descolonizações"à moda dos EUA, Nova Zelândia , Austrália , R.A.S. e ...as que se projectaram à moda das zambias , Guinés-Conakri , e outras fórmulas de reprodução de poder económico - financeiro sem responsabili dades políticas directas e a velha identificação pro- nacionalista , nunca desarticulada , de que - qual apoiante de Enrico Macias - , um branco nascido ou criado em Angola , de cultura portuguesa ou um colono articulado à "colónia " , ...não eram " argelinos de cultura francesa " , eram " franceses da Argélia " ;

3º falseando a história através da política actualista , não conseguindo sequer distrinçar a transição violenta generalizada em qualquer parte do mundo para o capitalismo , ou seja , as relações de produção e troca , do tipo de violência prevalecente na Angola do final dos anos 50 , imbuida do racismo
" mental " das minorias - branca e ,todos esquecem , mestiça - e , por outro lado , pela primordial , decisiva , por vezes fundamental , REACÇÃO negra com o INCENTIVO E O APOIO PRINCIPAL E NÃO SECUNDÁRIO das igrejas protestantes , precisamente porque A FASE DO NACIO NALISMO INTERNO ( desde 1930) , estava a " dar os últimos espasmos " , por outro lado , tenta defender-se alterando UMA REALIDADE...AS FOTOS DOS MILITARES , PORVENTURA COM O APOIO IMEDIATO DE COLONOS , ESPETANDO CABEÇAS DE NEGROS NUM PAU , com a sua utopia..generalizando essa prática . ANGOLA PODIA TER SIDO INDEPENDENTE EM 1960-1962 SE HOUVESSE UMA BASE SOCIAL DE APOIO INTERNO E LIDERES COM APOIO DE DENTRO PARA FORA A ESSA INDEPENDÊNCIA POR PARTE DA MAIORIA NEGRA .

4º Há aspectos particulares em grupos que se articulam no âmbito da Humanidade , e a Europa chamada Ocidental formalmente não é mais do que a tentativa de demarcação política...o "OCIDENTE "...de uma fase de degeneração de Poder global capitalista branco em exclusivo...a eleição de Obama é um recomeço de uma partilha fruto dessa degeneração . Mas ela não começou , não despoletou , não se desencadeou por via das lutas dos " povos " , como por exemplo do " povo angolano " liderado por vanguardas de facto retrógradas à moda do MPLA formalmente muito certinho...ELA - a degene ração dita ocidental - CONTINUA A DEGENERAR porque os alfredos margaridos desta vida , ao não quererem entender que os espaços sociais , os países económicos , as nações , os Estados , as " culturas nacionais " fruto do expansionismo global , internacionalista , da ECONOMIA , são cada vez mais uma mais valia , um valor acrescentado , QUANTO MAIS PARTILHAM AS DESGRAÇAS E OS TRIUNFOS . Em resumo , A ANGOLANI DADE FOI CONSTRUÇÃO MULTIRRACIAL VIOLENTA COM FUTURO...pois Adelino Torres , o colono rural e a família que ainda resta nas imediações do Lubango , ou os alemães nacionalistas politicos (!) , todos eles ERAM PERTENÇA DA ANGOLANIDADE ! Porque assim não foi ,
PORTUGAL ESTÁ OBRIGADO A SÊ-LO POR DEGENERAÇÃO E DESCONTRUÇÃO .

II

Para que nada se fique contra as pessoas em particular , mas de facto contra as ideias que defendem , não é nada negativo lembrar ANTÓNIO BARRE TO , que AFIRMANDO com razão que a economia é que cria as condições para que as mentalidades se transformem , chamando IDIOTAS a outros , tal como ALFREDO MARGARIDO , SE ESQUECE :

A) que um dos grandes erros das Esquerdas nacionais " OCIDENTAIS " é idealizarem que o seu " universo " de contradições é percebido pelos habitantes de todos os outros continentes ;

B) NÃO ENTENDE porventura QUE SE SHAKESPEARE TINHA RAZÃO SOCIALMENTE ...sobre que cada um " vai ser sempre aquilo que...já era " -ISSO É VERDADEIRO PARA AS MAIORIAS do " deixa andar " e é determinante ! - ,

TAMBÉM É VERDADE QUE " A VONTADE HUMANA PODE TUDO " e cada homem ou mulher tem capacidade , a começar pelas minorias "intelectualizadas " (!!!) , de se transformar, em alterar, em modificar, de lutar contra aquilo que se auto considera como negativo ( se sou nervoso tenho a capacidade de me esforçar por controlar o dito nervoso ! ) - ISSO É VERDADEIRO PARA AS MINORIAS " conscientes " e é decisivo !

PAREM DE SE FICAR PELOS ELOGIOS FOLCLÓRICOS ...NESTE CASO POLÍTICOS E CULTURAIS ...AOS NELSON MANDELA !
Por mais exertos e disfarces se pretendam reproduzir...Adelino Torres É POETA da angolanidade histórica...não é " progressista mas colonialista " !

Eugénio Monteiro Ferreira , Março 2009

domingo, março 01, 2009

Há um ano falecia Joaquim Pinto de Andrade / Texto gentilmente cedido por Adolfo Maria

Angola perdia um ilustre filho em 23 de Fevereiro de 2008. Morria Joaquim Pinto de Andrade um dos símbolos maiores da resistência à opressão e da luta pela liberdade em Angola.

Nos tempos coloniais dos anos 50 do passado século, era um padre guiado pelos valores universais dos direitos humanos e pelos princípios doutrinários da sua religião, o catolicismo. Encorajava clandestinamente os seus compatriotas a lutarem pela liberdade e, abertamente, perante a nata da sociedade colonial, nas suas célebres homilias de domingo, na Igreja da Sé de Luanda, proclamava que os homens são todos iguais quando nascem e todos devem viver com dignidade. Apesar dos assuntos «provocadores» que nelas versava nas homilias, essa sociedade deliciava-se a ouvi-lo, tão grande era a sua erudição e fluente a sua oratória. Sendo padre (deixou de o ser anos depois, mas continuou católico) Joaquim Pinto de Andrade, convivia com ateus, agnósticos e fiéis de outras religiões e pela vida fora manteve sempre este espírito eclético e ecuménico.

Nos finais daquela década de 50, a situação política evoluía muito rapidamente: os nacionalistas angolanos organizaram-se para a acção política e, através de panfletos, denunciavam o colonialismo português e reivindicavam a independência nacional. Joaquim Pinto de Andrade embrenhou-se directamente nessa luta e, em 1960 é preso com Agostinho Neto e outros angolanos. Ambos são deportados de Angola. Joaquim Pinto de Andrade é colocado em Portugal onde iniciará um longo ciclo de residências vigiadas em diversos mosteiros e prisões em várias cadeias, que durou cerca de catorze anos. Enfrentou com firmeza e dignidade a polícia secreta salazarista, a PIDE, em vários interrogatórios, evocando as condições de opressão colonial em que vivia o povo angolano e afirmando que nada mais era que um homem assumindo a defesa das aspirações de liberdade do seu povo. Vozes se levantaram em todo o mundo contra a repressão que a polícia política portuguesa exercia sobre ele e o MPLA nomeou-o presidente honorário do Movimento.

Após a revolução portuguesa de 25 de Abril de 1974, Joaquim Pinto de Andrade procurou no Exterior dar a sua contribuição para a solução das divergências no seio do MPLA, dividido então em três tendências. Os tempos não se prestavam à sua mediação pois as perspectivas de uma próxima independência despoletaram em quase todos os dirigentes nacionalistas a preocupação maior e única de prepararem o assalto ao poder na futura Angola independente. Daí que graves questões como métodos de direcção e funcionamento do Movimento, responsáveis pela crise existente, e importantes questões nacionais não fossem objecto de interesse e preocupação dos dirigentes instalados pois o que lhes interessava eram as acções e manobras visando uma próxima conquista do poder em Angola.

Mesmo assim, depois de numerosas conversações e mediações de países africanos limítrofes amigos, foi decidida a realização de um congresso que levasse à unificação das fileiras do MPLA, estabelecesse métodos democráticos no seio da organização e definisse as estratégias a seguir naquele delicado momento político que antecedia as conversações com o novo regime português para a independência de Angola. Mas o congresso de Lusaka fracassou, devido às posições extremadas de Neto e Chipenda. Foi então que Joaquim Pinto de Andrade aderiu à facção Revolta Activa e passou a ser o seu líder.

Regressado meses mais tarde ao país, foi alvo de humilhações públicas por parte de vários sectores do MPLA às quais respondeu corajosamente. Após a independência, viu serem presos vários membros da ex-Revolta Activa e outros patriotas. De novo foi atacado na imprensa oficial por escribas ignorantes ou de má fé que vomitavam várias insinuações e calúnias até a de traição à pátria. Contra a repressão reagiu escrevendo cartas ao presidente Neto e chamando-lhe a atenção para o processo de exclusão de cidadãos válidos da vida nacional que fora desencadeado, um processo susceptível de trazer consequências ao próprio presidente. Eram proféticas as suas palavras porque um ano depois deu-se o 27 de Maio. Joaquim Pinto de Andrade, o incansável lutador pela liberdade, o tenaz resistente à opressão colonial, assistiu consternado a uma sanguinária repressão feita por angolanos sobre angolanos (até do mesmo partido político) na Angola Independente.

Desde a independência que estava impossibilitado de se pronunciar publicamente e também impedido de exercer profissão pública. Mas a sua ânsia de intervenção na sociedade angolana permanecia e, assim, em Janeiro de 1990 criou a Acção Cívica Angolana, ACA. Depois, na abertura política proporcionada pelos acordos de Bicesse, ainda procurou exercer intervenção política através de um dos novos partidos, mas depressa se desiludiu. Tendo-se afastado da intervenção directa, falava de Angola em colóquios internacionais para os quais era convidado pelos organizadores. Até que a doença o acometeu e nele se instalou durante longos anos em que lentamente foi perdendo as suas capacidades até ao desfecho ocorrido há um ano, tinha ele oitenta e dois anos.

É útil lembrar que Angola se tornou independente graças às atitudes e actos de pessoas como Joaquim Pinto de Andrade. Contudo, o Estado angolano ainda não reconheceu os erros que praticou em relação a este patriota e exemplar cidadão nem lhe presta a homenagem a que tem direito pelo contributo que deu à Pátria, colocando-o na galeria histórica dos mais insignes angolanos.

Mas, independentemente dos reconhecimentos oficiais, importa o exemplo que Joaquim Pinto de Andrade será para as novas gerações angolanas. Neste momento que Angola atravessa em que as concepções dominantes na sociedade são o ganho fácil e a ganância desenfreada, o recurso a todos os meios mesmo os mais abjectos para se conseguir os seus fins, o desprezo mais absoluto pelo povo, convém recordar os princípios que orientaram a vida de Joaquim Pinto de Andrade e que podem servir de estímulo àqueles que desejam ver Angola tornar-se um país de maior justiça social.

A constante luta pela liberdade dos homens e dos povos, a coragem face à repressão em todos os momentos (perante o regime colonial ou perante a ditadura nacional), a honestidade e dignidade, o civismo, o amor ao seu povo são valores que nortearam a vida de Joaquim Pinto de Andrade e constituem um magnífico legado ao seu país.

Adolfo Maria
Lisboa, 23 de Fevereiro de 2009

Gentil Viana faleceu há um ano / Texto de Adolfo Maria

Gentil Viana faleceu há um ano

A 23 de Fevereiro de 2008 falecia Gentil Ferreira Viana o destacado vulto da luta pela independência de Angola, íntegro cidadão e brilhante pensador.
Nos seus tempos de aluno do curso complementar do liceu de Luanda, 1953-1954, Gentil Viana impunha-se aos colegas pela sua capacidade de raciocínio e pela sua convivialidade. Apaixonado pelo seu país e pelos feitos dos mais velhos (entre eles o seu pai Gervásio Viana, fundador da Liga Nacional Africana) na resistência ao sistema colonial e na dignificação do homem angolano, Gentil Viana mobilizava através de eloquentes conversas e discussões os seus colegas em torno das questões ligadas à identidade nacional. Em grupos mais restritos e mais clandestinos falava da necessária independência do País. Em Portugal, para onde foi fazer os seus estudos universitários, elaborou um plano para o controle da Casa dos Estudantes do Império pondo esta associação de estudantes oriundos das colónias portuguesas ao serviço das causas nacionalistas daqueles países sob dominação colonial. Em 1961 participou na saída clandestina de cerca de cem estudantes africanos para França, o que permitiu aos movimentos nacionalistas, em especial o MPLA, receberem repentinamente numerosos quadros. Em breve o jovem advogado Viana foi integrado na diplomacia do MPLA, acompanhando o presidente do Movimento, Mário de Andrade às sessões do comité de descolonização da ONU e a visitas a vários países.
Em 1962, na Conferência Nacional do MPLA, em Leopoldville, num intenso debate, Gentil Viana e Viriato da Cruz confrontaram as suas ideias sobre o momento político que se vivia e as saídas para o desenvolvimento da luta armada e implantação do MPLA no interior. Viana apresentou um projecto de desenvolvimento da guerrilha e de tácticas a seguir no Exterior pelo MPLA, plano esse que a assembleia aprovou.
Pouco tempo depois, Gentil Viana, descontente por o seu plano não estar a ser aplicado e pela estagnação que continuava a existir, abandona a actividade militante e acaba por ir para a China onde lhe foi dada a tarefa de traduzir para português as obras de Mao-Dze-Dong e outros. Aproveita este período para estudar filosofia e obras sobre as grandes revoluções do século XX: nomeadamente a soviética e a chinesa.
Em 1971, na sua visita à China, Agostinho Neto convida-o a retomar a actividade militante no MPLA e é então que Viana e outros quadros idos da Frente Leste frequentam um curso específico de formação militar superior. Regressado esse grupo à Frente Leste, em meados de 1972, encontra uma situação caótica: a ofensiva militar portuguesa tinha empurrado as forças guerrilheiras para a fronteira, a desorganização e falta de motivação eram generalizadas entre as populações refugiadas, militantes, quadros, guerrilheiros. Eram constantes as queixas contra as negligências de dirigentes ou seus comportamentos. Gentil Viana viu que era necessário por em causa aquilo que já mostrara a sua ineficácia e estava na base do descontentamento geral, ou seja, as estruturas e as concepções de condução existentes. Concebe um plano que apresenta ao presidente Agostinho Neto. Este aceita. Trata-se do «movimento de reajustamento». O ponto de partida foi o congelamento do comité director (a direcção do Movimento). Assim eram temporariamente suspensas as hierarquias, o que possibilitaria às pessoas falarem livremente apontando as falhas da organização e dos responsáveis de todos os escalões. Todos passaram a ser iguais, sem qualquer espécie de coacção. O movimento de reajustamento foi uma gigantesca discussão dentro do MPLA como nunca dantes houvera e com entusiasta participação de todos. Os documentos teóricos que Gentil Viana elaborou para o arranque do reajustamento, a metodologia proposta representam um pensamento profundo e uma enorme criatividade.
Em finais de 1972, Gentil Viana é nomeado conselheiro do presidente, e realiza com êxito a tarefa de resolver o imbróglio político criado pelo surpreendente acordo que Neto fizera com Holden em Kinshasa e que tanto penalizava o MPLA.
No início de 1973, a situação geral do MPLA, política, militar e diplomática era muito má. Na Frente Leste surgira a Revolta do Leste, como pretexto à súbita retirada de quadros para a Frente Norte, toda actividade política e militar estava parada. Na Frente Norte, a manipulação do reajustamento pela presidência do Movimento, concluído em Fevereiro de 1973, ocasionou descontentamento em vários quadros e militantes que viam persistir a degradada situação.
É então que Gentil Viana se empenha em mobilizar clandestinamente militantes e quadros para um pronunciamento a favor de medidas que transformassem o MPLA na organização eficaz que a luta requeria e os militantes desejavam. Assim nasceu o famoso “Apelo dos Dezanove” porque foi este o número dos seus primeiros subscritores. Nesse apelo, concebido por Viana, atacava-se o presidencialismo absoluto que atrofiava a organização, apelava-se para a realização de um congresso para acabar com as divisões existentes, instituir a prática democrática no MPLA e definir as estratégias de luta adequadas. Este pronunciamento chamou-se Revolta Activa. Ele surge numa situação interna e externa extremamente complexa. O mundo estava dividido em dois blocos profundamente antagónicos: um, o Ocidente sob a capa dos Estados Unidos que, em nome da democracia apoiavam as ditaduras africanas e da extrema direita nos continentes americano, asiático, e europeu (Portugal e Espanha) e faziam a guerra ao povo vietnamita; o outro, chamado Bloco do Leste, que apoiava os movimentos de libertação, e onde imperava a União Soviética, constituído por países de partido único que exerciam um poder ditatorial. No movimento nacionalista angolano, a FNLA e o MPLA estavam em profunda crise, essencialmente por erros cometidos no seu seio e na condução da luta. É neste contexto que surge o apelo da Revolta Activa cuja questão central era a democracia no seio do MPLA e no seio da Nação. Para lá da sua urgência naquele momento político angolano, a questão da democracia era uma questão de grande actualidade para os povos de todo o Mundo necessitando uma profunda reflexão não só porque estava a ser secundarizada em todos os países, mas também por ser um valor civilizacional, determinante instrumento do progresso humano. Nesse apelo, Viana punha questões universais que só décadas mais tarde seriam objecto de decisões internacionais.
A independência de Angola deu-se nas condições dramáticas que conhecemos. Poucos meses depois, Gentil Viana e outros seus companheiros viriam a ser perseguidos e encarcerados a 13 de Abril de 1976, como castigo do pronunciamento que haviam feito dentro do MPLA em 1974. Fez greve de fome, dizendo que não lutara pela independência do seu país para estar guardado por soldados estrangeiros, que eram cubanos. Dos maus tratos recebidos ficou cego de um olho. Em finais de 1978 foi deportado para o estrangeiro, tendo fixado residência em Portugal, onde se encontrou sem documentos de identidade, numa situação de apátrida. Aí exerceu a advocacia. Simultaneamente com a sua profissão reunia e discutia os problemas do país com alguns companheiros também ali exilados, tendo-se formado um grupo de reflexão que viria a desencadear em 1989 e 1990 uma actividade diplomática para apoio às suas propostas de fim da guerra civil em Angola, um objectivo que deveria ser conseguido sem a intervenção estrangeira e recorrendo à mediação angolana, ou seja fazendo recurso à própria nação. Desta actividade destacam-se as conversações com os dirigentes de Cabo Verde e com dirigentes de partidos portugueses. São essencialmente da autoria de Gentil Viana os documentos de denso conteúdo que então foram elaborados: Apelo a Chefes de Estado africanos; documento de análise das origens do conflito angolano e dos interesses da cada uma das componentes do conflito: MPLA e UNITA, como componentes internas, África do Sul, Estados Unidos, Cuba e União Soviética, as componentes externas; memorando aos chefes de estado dos países envolvidos no conflito angolano.
Entretanto, e secretamente, a UNITA e o MPLA começaram a negociar, chegando aos acordos de Bicesse que consagraram a desigual partilha do poder pelos dois contendores e uma democracia formal em que a vitrina era a constituição de numerosos e ineficazes pequenos partidos.
Sempre pensando que o país só poderia avançar se todas as vontades fossem mobilizadas para um objectivo de interesse comum, Gentil Viana viu nas tréguas instaladas a possibilidade de se recorrer à Nação para garantir a Paz. Deslocou-se a Luanda para apresentar o seu plano de convivência nacional ao presidente da república e aos dirigentes dos partidos, aos responsáveis da igreja católica e protestante, a membros da sociedade civil. Esse plano, inicialmente aceite com interesse e depois desprezado pelos dois partidos que já se preparavam para o ajuste de contas de Outubro de 1992, contém elaborados princípios e metodologias para a intervenção da Nação na arbitragem do conflito e na construção de normas de convivência, garantia de uma real reconciliação nacional.
Pouco depois de retomada a guerra civil em Angola, Gentil Viana teve um AVC de que conseguiu recuperar. O país continuou mergulhado na guerra, mas Viana não deixava de pensar num futuro mais feliz para a pátria. Os anos foram passando, foi-se debilitando e, por fim, tomado por implacável doença. Faz agora um ano que morreu, tinha setenta e dois anos de idade.
Gentil Viana merece ser estudado porque, possuindo uma enorme inteligência que pôs ao serviço da causa da liberdade do povo angolano, produziu sempre um pensamento inovador não só angolano mas universal. A sua integridade, a sua postura de não aceitação do statuo quo paralisante, a sua capacidade em fazer rupturas com o etablishement, a sua procura audaciosa de novos caminhos para a liberdade e dignidade dos homens, a sua coragem ao enfrentar e desafiar a opressão fazem dele uma referência nacional e um incentivo para que as novas gerações procurem um caminho para o povo angolano onde não tenha lugar o rastejar da submissão e onde a dignidade seja um valor cultivado.

Adolfo Maria
Lisboa, 23 de Fevereiro de 2008